segunda-feira, dezembro 12, 2005

"Fiquei fora da seleção por causa da panela"



Se cearense não fosse tão sacana, eu começaria definindo o Marlus como um touro, pela sua capacidade física e disposição. Para evitar as gracinhas, vamos defini-lo como um trator. Um trator com alma de Ferrari. Sua determinação dentro da água confunde-se com a sua rotina. Por questões médicas e de trabalho, não tem se dedicado ao Pólo Aquático como queria. Mesmo assim está sempre próximo. Aos 36 anos, casado e com um filho, o jogador que defendeu o vermelho e branco do Tijuca por duas décadas agora quer ver o pólo cearense crescer. Se depender de personalidade forte e raça, o grito de gol jamais sairá novamente das piscinas cearenses.

Pólo Ceará: Como e quando você começou a jogar pólo aquático? Desde muito novo você se caracterizava por ser um atleta muito forte e pela explosão. Você treinava muito?
Marlus: Comecei com 11 anos, no infantil A em 1980. eu já tinha uma bagagem da natação que comecei com 3 anos de idade,mas aos 11 anos já não aguentava mais borda a borda para baixar o tempo. Minha irmã namorava com um atleta de Pólo Aquático. Ele se aproximou de mim e sugeriu o pólo. No início treinei muito os fundamentos, pois já era o mais veloz.

Pólo Ceará: Você jogou muito tempo com caras como George Chaia, Serginho, Lanlane muitos outros craques. Com quais jogadores você mais se identificavaquando a bola rolava? Quais você mais admirava?
Marlus: Eu me identificava muito com o Sul (NOTA POLO CEARA: PAULO ABREU, O SUL, JOGADOR DA SELEÇÃO OLÍMPICA DE 1984, É PRIMO DO ADRIANO ABREU, JOGADOR DO PÓLO CEARENSE). Admirava também outros jogadores como Lanlan, Fred e Sílvio.

Pólo Ceará: Quem foi o melhor jogador com quem você já jogou (contra e a favor)?
Marlus: O melhor com quem joguei foi George Chaia. Contra foi o Luiz Guilherme, do Flamengo.

Pólo Ceará: Você já disse que o técnico Jorginho fez você mudar como atleta. Como foi?
Marlus: Lembro que eu treinava no juvenil do Tijuca e num certo dia o Jorginho chegou e me pediu para ficar, para eu começar a treinar com o adulto e comecei a fazer desta forma a partir deste dia. Depois de alguns dias, devido ao meu desempenho e dedicação, ele investiu em mim, me ofereceu uma remuneração mensal (ajuda de custo). Eu já era o segundo banco do adulto a entrar no jogo e, não só pela remuneração oferecida, mas pelo nível tático e qualidade de treinamentos, foi o melhor técnico que já tive. Eramos muito unidos. Nos finais de semana íamos para casa dele pra comer um churrasco, festas de aniversários, peladas e outros eventos.

Pólo Ceará: O que mais te marcou em tantos anos de pólo aquático?
Marlus: Tantas coisas, momentos como os que eu já descrevi acima... Teve um marcante que foi quando estava prestes a ser cortado da seleção e num jogo treino contra o Canadá eu fiz5 gols. No intervalo eu tinha tido um atrito com o técnico Duda, do Paineiras do Morumbi, que era o técnico da seleção na época. Um gol em especial eu lembro. Foi tipo um tapa de luva de pelica. Ele berrava "roda a bola, roda a bola, quero gaste o tempo até o final”, e mais os menos aos 25, eu chutei sardinhando, bola entrou na gaveta. Eu olhei para ele e ele aplaudiu. No final do coletivo ele chegou para mim e falou "tu é foda, eu tenho que te deixar puto para você jogar muito, você não me deixa escolha, você está no time".

Pólo Ceará: Conte a sua passagem pela seleção brasileira junior. Você não teve outras oportunidades de pegar a seleção?
Marlus: Os cariocas treinavam no Rio e os paulistas em São Paulo. Nos fins de semana íamos para São Paulo. Tivemos uma apresentação em Minas Gerais. Iamos participar de um torneio na Europa, mas o Coaracy Nunes, presidente da CBDA, segundo ele mesmo afirmou, fez um investimento que não deu certo e ficamos durante 1 mês no Pinheiros, chegando na véspera do Panamericano de Pólo Aquático da categoria Junior. Começaram os cortes, éramos 15 e dois foram cortados: Emerson, do Bauru, e Daniel Mameri, do Paineiras.
No jogo contras os Estados Unidos me machuquei. Desloquei o ombro num chute que definiu o placar de 9 a 8. O marcador entrou com a mão debaixo do meu braço no movimento do chute, e não pude participar da final com Cuba, quando perdemos de 8 a 7. O time de Cuba foi neste torneio que pensávamos que íamos na Europa e pegou muita bagagem, pois jogou contra URSS, Ioguslávia, Alemanha e Itália.
Fui convocado para o Mundial e Sulamericano, mas senti ambiente de panela. Num fui cortado devido à panela e no outro, já sentindo o mesmo ambiente, pedi dispensa e resolvi pedir em todas as outras convocações, mesmo alguns técnicos conversando comigo que era vaga garantida. Eu sentia que era ilusão para formar um grupo e chegava na hora H eles acabavam escolhendo os atletas com quem tinham afinidade ou de seus clubes, e não os que tinham experiência e qualidades técnicas para defender o nosso país. Isso me aborrecia muito. Eu sempre procurava o Jorginho para entender a situação, ele dizia "Marlus é assim mesmo, é panela, o que sei é que você é titular no meu time e se eu fosse técnico você estaria na seleção".
Por outro lado foi bom por que quando eu jogava contra o time deste técnicos da panela, eu jogava mordido e respondia no jogo, ou seja, jogava pra caralho. Só teve uma vez que perdemos. E aí vinha a cena do tapinha nas costas, e os papos como "por que tu saiu da seleção?". Eu respondia "de que selecão, a que vocês escolhem, ou a que deve ser?”, virava as costas e ia embora.

Pólo Ceará: Você está totalmente recuperado do tiro de bala perdida que levou em Búzios?
Marlus: Não, quando jogo ainda sinto algumas fisgadas no peito quando estou frio, e meu médico falou para eu diminuir o exercício no torax e procurar fazer exercícios só com as pernas. Já diminuí o máximo que posso treinando leve uma vez por semana.

Pólo Ceará: Como você está sendo essa experiência de tentar revitalizar o Pólo Aquático em Fortaleza? Você acha que o esporte pode crescer no Ceará?
Marlus: Excelente!!!! Com certeza se tivermos coragem,determinação e incentivo, o resto entregamos nas mãos de DEUS que ele nos dará os resultados.

Pólo Ceará: Você já falou que o “Pólo Aquático está no sangue”, que não pára de jeito nenhum. Por que tanto amor pelo Pólo Aquático?
Marlus: Identificação total. Nunca tive um crescimento similar em qualquer outro esporte. Difícil explicar, é coisa de pele, não consigo me imaginar muito tempo longe, é bom demais um gol bonito, uma jogada bem feita, a determinaçao na hora do chute, a saída da marcação com a conclusão do chute com a realização do gol é uma mistura de sentimentos: determinação, raça (puxar para si a responsabilidade), glória(gol), resultado do esforço alcançado. ALADAR SZABO JÁ DIZIA QUE TODO TREINO É UMA BATALHA. PRECISAMOS GANHAR TODAS PARA VENCER A GUERRA, QUE É O JOGO.

Teremos sempre entrevistas com pessoas que fazem o pólo aquático cearense e brasileiro. Nosso objetivo é informar e integrar.

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Excelente entrevista! É bom que os interessados no esporte possam conhecer um pouco da história de um dos nossos mais ilustres atletas.
Joguei contra o Marlus várias vezes, e posso dizer que era um cara muito difícil de marcar por causa da sua explosão e da excelente natação.
Se não me engano, jogamos juntos algumas vezes no período que estive no Tijuca. Infelizmente, por motivos pessoais, não pude me dedicar aos treinamentos naquela época e acabei não jogando vários torneiros e campeonatos.
Parabéns ao Hélcio por mais essa iniciativa!!!

12 dezembro, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Pensei que as panelas fossem coisa nova.

12 dezembro, 2005  
Anonymous Anônimo said...

Bela entrevista !!! Esperamos o nosso amigo marlus, consiga resolver o mais cedo possível seus pepinos, e volte a treinar com maior frequência, sua presença é essencial para o crescimento de nosso pólo.

13 dezembro, 2005  

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