domingo, fevereiro 19, 2006

"O Brasil é um celeiro de atletas com dom nato, é só dar uma condição que os resultados aparecem"

O Solon era um atacante perigosíssimo. Difícil para alguém que não acompanhasse o esporte de perto acreditar que aquele cara pudesse ser tão rápido. Vai ser difícil também entender o quanto o cara é divertido apenas por uma entrevista rápida. Eu era um dos moleques que gostava de aproveitar a chance de vê-lo na beira da piscina contando as suas histórias. Para quem não teve essa chance, fica aqui um pouco do que é o Solon dos Santos, e uma mensagem final fantástica que resume tudo e lembra a deixada pelo Duda. Não foi à toa que os caras foram sempre artilheiros.

Pólo Ceará - Você nunca foi de "jogar confetes" e isso sempre fez de você um jogador polêmico dentro e fora da água. Mesmo assim essa confusão que fizeram contigo da prancheta, vista daqui de longe, pareceu patética. O que houve de fato?

Solon - Foi na semifinal do estadual de infanto-juvenil no jogo contra o Fluminense, o Silvio não pôde dirigir o time, e foi substituído pelo Carlinhos. O Carlinhos utilizou a prancheta no jogo e o Flamengo ganhou de 14x3.

O repórter do site poloaquatico.com.br , quando acabou o jogo, veio me perguntar porque eu não estava utilizando a minha prancheta. Eu respondi que estava na mala do meu carro e que não costumo utilizar em meus jogos na beira da piscina, não esquecendo que eu dirijo categorias de base, e na minha opinião os atletas que estão iniciando o pólo aquático ainda não conseguem se concentrar na beira piscina em uma prancheta.

Mas isso eu tenho certeza foi uma maneira de polemizar a direção do Carlinhos, por ele ser o técnico da seleção, sempre será cobrado em resultados. Não se esquecendo que ele estava substituindo o Silvio numa emergência, jogando contra o time do Flamengo de Infanto-juvenil, que está invicto há mais de 50 jogos é bicampeão estadual, bicampeão brasileiro e tricampeão da copa do Brasil, que outros técnicos com prancheta ou sem prancheta, tentaram tirar a hegemonia do Flamengo e não conseguiram.

Pólo Ceará - Lembro de você na beira da piscina dizendo que havia quem falasse mal de você, mas todo ano você era artilheiro e, quando não era você, era o Duda. A característica que mais recordo do seu jogo era a explosão pra entrar na área e o chute rápido pro gol. Como você definiria seu estilo de jogo?

Solon - Quem definiu melhor o meu maior potencial foi meu treinador Edson Perri (Barriga). Ele dizia que eu tinha força proporcional ao meu peso, com uma explosão nata, e que poucos atletas nascem com essa qualidade.

Me aproveitando dessas qualidades que Deus me deu, e muito treinamento nos fundamentos e horas treinado chutes a gol. Me tornei artilheiro em todos os clubes e seleções em que joguei, lembrando que na minha trajetória de goleador, sempre travei verdadeiros duelos, com atletas como Duda, Ayrton, Eric Borges e tantos outros que por qualquer descuido me tiravam a condição de artilheiro dos campeonatos. Tenho sempre agradecer aos companheiros, de times ou seleções, que me ajudaram a ser o goleador de tantos gols.

Pólo Ceará - Você marcou uma época e dificilmente alguém tem mais histórias dentro do Pólo Aquático do que você. Você pode contar alguma? Fica a sugestão de uma que rolou no ônibus dos japoneses nas Olimpíadas de 1984.

Solon - Essa passagem foi hilária, não foi nos jogos olímpicos e sim no pré-olímpico em Roma (Itália). Fomos jogar com o Japão bem cedo e fazia muito frio, com a piscina do estádio olímpico de Roma, era aberta , saia muita fumaça e quando nós chegamos os japoneses estavam treinando. Antes de jogar, davam muitos tiros de natação e gritam como samurais, aquilo nos deixou curiosos e apreensivos, mas nada que mudasse o nosso objetivo de nos classificarmos para a olimpíada de Los Angeles 1984.

O jogo foi realizado e o Brasil ganhou, quando estávamos apanhando o nosso ônibus, reparamos que os Japoneses estava chorando no ônibus do lado. Eu e o Marco Vinicius demos um berro para os japoneses, quando eles olharam, nós ficamos imitando eles. Olha, os caras ficaram uma arara.

Tem um ditado que diz: “quem ri por último, ri melhor.”

Pólo Ceará - A criação das categorias Master foi muito legal para manter o pessoal com a possibilidade de se divertir mesmo sem poder treinar com a mesma regularidade. Você está jogando?

Solon - Infelizmente não posso mais jogar enquanto eu não fizer uma cirurgia no fêmur, foram seqüelas de um acidente que sofri de moto em 88. Tenho que agradecer todos os dias, a Deus, por me deixar andando.

Vamos deixar de lado esses momentos ruins e falarmos da categoria de master, mesmo com os problemas de saúde que tive, tenho participado como técnico dos master do Rio de Janeiro e talvez tenha sido os momentos mais agradáveis, que passei ano passado na competição que teve em SP, ter o privilégio de conviver com meus grandes amigos do esporte como Ritão, Ricardinho, Perrone, Luizinho, Duda, Clovis, Valter, Robert, Maynard, Barrigão, Eduardo, Jacaré, Renê, Canetti, Vargas, Tonietto, Luis Paulo, Manteiga ,Gugu, Pavetitts, Raoul, os Fialdininis, George e Álvaro Sanches e tantos outros. Juntos recordarmos dos anos gloriosos e momentos inesquecíveis. Só tenho que agradecer ao Ritão, meu amigo de longa data que me fez esse convite, que aceitei de imediato.

Pólo Ceará - Qual a sua melhor lembrança do período como jogador?

Solon - A maior foi os jogos olímpicos de Los Angeles (USA) 1984, mas tenho grandes lembranças como os 4 JEBS que ganhei junto com o Paulinho Licastro de técnico, e hoje trabalhamos no Flamengo. Recordando vários títulos que ganhamos juntos e tentando mesclar nossa experiência para passar o máximo de informações aos nossos atletas que hoje formam essa nova geração.

Pólo Ceará - Vamos voltar à sua condição atual de treinador. O que mudou na preparação dos atletas com as novas regras?

Solon - Essa temporada de 2006 vai ser muito desgastante, pois vai ser o primeiro ano que começamos a preparar nossas equipes do Flamengo para as mudanças de regra. O volume de natação vai ter que ser mais intenso e com trabalhos específicos de chutes de primeira, para poder acompanhar o jogo dinâmico que estão jogando atualmente.

Pólo Ceará - Sua personalidade irreverente deve ter feito muita gente duvidar que você pudesse ser um bom técnico. Queira ou não você é obrigado a ser um disciplinador. Como é o seu relacionamento com os atletas?

Solon - Sempre fui irreverente, mas respeitando os limites que eram impostos, por isso fiz parte da Seleção Nacional por muitos anos. Quanto a eu ser bom técnico, acho que os números dizem tudo, minha passagem por todos os clubes que passei. Eu formei vários atletas e conquistei títulos e pude ser reconhecido por aqueles, que vivem sempre tentando arrumar uma desculpa ao sucesso dos vencedores, mas quando me torno campeão, procuro lembrar que as minhas vitórias são frutos de um trabalho dos atletas, dos pais e da comissão técnica que trabalhou em conjunto, quando não se parte desse princípio, dificilmente o resultado é positivo.


Pólo Ceará - Você conhece de perto a nova geração que está surgindo. Tem muito garoto bom?

Solon - O Brasil é um celeiro de atletas com dom nato, é só dar uma condição que os resultados aparecem. Falo sempre que gerações passam todos os dias e que nada se faz para mudar o esporte nacional.

Os jogos pan-americanos já estão aí, ano que vem, e os cartolas ainda estão discutindo quem é que vai pagar as obras dos pólos esportivos. Não estou vendo nenhum trabalho de seleções permanentes dos esportes que precisam de apoio, a não ser o voleibol, a ginástica e outros esportes que já figuram como os melhores do mundo.

Pólo Ceará - Como você avalia a seleção que está se preparando para o Pan?

Solon - Acho que o trabalho da seleção do Pan ainda não começou, é só ver que ainda estamos sempre discutindo quem merece ser convocado ou não, mostra que temos que percorrer com muito trabalho e união geral uma maneira de formamos a melhor seleção possível . Torcendo sempre para que nosso esporte seja um dos expoentes dessa festa maravilhosa que vai ser os jogos pan-americanos.



Pólo Ceará - Brasileiro é doido por gol. Por que o Pólo Aquático não volta a ser popular como já foi?
Solon - São fatores para discutirmos durante horas, só que sempre que pessoas ligadas ao esporte se reúnem, coisa muito boas são ditas e pensadas. Só que esbarramos com um fator de suma importância, que é como vamos viabilizar qualquer projeto sem um parceiro que possa nos dar respaldo para se realizar uma massificação geral do pólo Nacional.

Até hoje no pólo aquático não apareceu um Almeida Braga, que pegou o voleibol e deu total estrutura para se massificar.

Pólo Ceará - Há um grupo empenhado em organizar eventos no nordeste para difundir o Pólo Aquático por aqui. Esperamos numa dessas edições ter o privilégio da sua presença.
Solon - Será um honra eu poder fazer parte. Eu como jogador já participei de eventos como JEBS e campeonatos regionais com o Botafogo em 1989 em Recife e 1990 em Aracaju. Sei muito bem que o nível técnico não era um dos melhores, mas por empolgação, talvez tenha sido os maiores campeonatos que eu já atuei.

Só quem ama o nosso esporte e faz dele um prazer de viver, entenderá que não existe coisa mais gostosa do que fazer um golzinho e vibrar como se fosse no maior campeonato do mundo, só que foi naquele racha que só os aquapolistas conhecem.

Na foto logo acima Solon sendo atirado na água na comemoração de mais um título. Na primeira foto da entrevista Solon de camisa preta ao lado do treinador Paulo Licastro.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

De tantas ENTREVISTAS BOAS, esta é uma das melhores, PARABENS ao entrevistado e ao entrevistadoR !!!

20 fevereiro, 2006  

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