"O Pólo aquático era considerado esporte de super-atletas"
Pólo Ceará - Entre os veteranos ex-jogadores de Fortaleza que estão voltando, a gente percebe um excelente nível técnico. Como foi o trabalho que você fez no PóloAquático em Fortaleza?
Amaral - Depois de ter sido convocado para a seleção brasileira (frutos extraídos dos JEB´s) fui para Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN, em 1976. Ao chegar na AMAN procurei logo a me relacionar com o grupo do polo aquático, mas senti que faltava muito para desenvolver.
De goleiro passei a jogar de pivô. Ao término da Escola (79), ganhei um troféu por ter sido considerado o melhor jogador de polo aquático dos últimos 4 anos. Fiz a Escola de Educação Física (84) e retornei a Fortaleza (85)(CMF). Aqui passei a trabalhar a equipe do Colégio Militar, que logo logo começou a ter resultado. Recebi um convite para treinar a equipe do Náutico, no lugar do Barroso, que estava querendo sair. Aceitei o convite e passei a formar um time com os veteranos que treinavam com o Barroso e trabalhei uma equipe de jovens. Montei um grupo no Náutico com 45 atletas de pólo (entre homens e mulheres).
Fui jogador de polo de 1970 a 1979 e técnico de 1985 a 1989.
Pólo Ceará - Os dois nomes sempre citados como treinadores são o seu e o do Barrosão. Algumas pessoas citam ainda o Eugênio. Quem começou esse trabalho? Vocês chegaram a participar de competições?
Amaral - Quem iniciou o pólo no Ceará foi o Colégio Militar, com a chegada de oficiais que serviram no Sul. O Sargento Noronha foi o nosso primeiro técnico a conseguir um troféu nos JEB´s (73 e 74 – em que disputei).
Participamos de um torneio N/NE em Recife, trouxemos a equipe do Flamengo para jogar aqui. Realizei amistosos com as equipes do NE, além de outras disputas entres clubes, particularmente com a AABB.
Pólo Ceará - Por que o Pólo aquático acabou em Fortaleza e ficou mais de 10 anos esquecido?
Amaral - O JEB´s foi o grande impulso para o polo aquático, pois tínhamos um objetivo a alcançar. Com o fim do JEB´s e JUB´s o pólo ficou um pouco esquecido. Para iniciar todo e qualquer trabalho, acima de tudo, temos que colocar amor naquilo que fazemos. Quando comecei a trabalhar o pólo no Colégio Militar, ficava sem almoçar, só para treinar a garotada, pois sentia uma resposta do grupo. E assim foi se formando uma equipe.
Os técnicos de natação sempre culparam o polo aquático como o responsável pela fuga dos seus atletas. Eu desenvolvi uma boa natação nos meus atletas, ao ponto de disputar com a equipe da natação nas provas de velocidade. Outra decepção é ver as piscinas sendo construídas muito rasas, simplesmente por pura economia.
Pólo Ceará - Nos anos 60 o Pólo Aquático só perdia em audiência no Rio para o futebol e basquete. Os jogos tinham tanta gente que até os ingressos eram cobrados. Como era o clima nos campeonatos aqui em Fortaleza na sua época?
Amaral - O Pólo Aquático tomou grande impulso graças a uma grande pessoa chamada João Havelange, pois ele era um ex-jogador e muito fez por este esporte, inclusive dando passagens para a equipe do Brasil disputar uma olimpíada.
As competições eram bastante assistidas, pois o Polo era considerado um esporte dos superatletas. Antes não existia essa febre do ironman. Os jogos na AABB e no Náutico eram bastante concorridos.
Pólo Ceará - No nosso time atual do Náutico há o Dirceu e eu que treinamos nos anos 80 no Fluminense com o Jorge Herculano (Jorgete) e Claudino, já treinador consagrado no seu tempo. Você numa conversa por telefone contou que conheceu o Jorgete. Você poderia falar um pouco sobre esses nomes e sobre outros destaques da época?
Amaral - Meu contato com a turma do Rio e SP era muito pouca, excetos os que foram para a Europa. Conheci o Jorgete no Fluminense e nos JEB´s, ele sempre foi um ícone, incentivador do esporte. A turma respeitava muito o Jorgete no apito. Não “alisava”.
A viagem à Hungria foi com um grupo formado com os melhores dos JEB´s de 1974. Levaram também todos os técnicos dos estados que participaram dos Jogos. O Técnico do Ceará foi impedido de viajar por ser militar, pois o "estágio" foi na Hungria que era um país socialista controlado pela Rússia. Os destaques do time eram Beiçola, Paulo, Michel, Caco, entre outros...
Pólo Ceará - Ouvi dizer que quando chegou na Europa para jogar contra os húngaros você ficou impressionado com a força dos chutes. Como foi essa passagem?
Amaral - Quando cheguei na Hungria fui direto para a piscina. A equipe do Brasil estava com 3 goleiros. Eu (Ceará), Michel (Guanabara/Rio) e o Coutrim (SP). A primeira bola que fui defender furou o bloqueio das minhas mãos e bateu no meu rosto. Aí foi que aprendi a importância dos dedos cruzados ao receber uma bola chutada. A Hungria, quando estive lá treinando por um mês, era considerada a melhor equipe do mundo. Os americanos passaram bom tempo treinando também com eles. Inclusive levaram para EUA toda delegação principal de polo da Hungria para uma temporada.
Pólo Ceará - As regras acabaram de mudar para tornar o jogo ainda mais dinâmico. Como você compararia o jogo nos seus tempos para os últimos que você viu?
Amaral - Primeiramente, preciso me atualizar, mas com essas mudanças, as equipes passaram a trabalhar com mais velocidade e o gol ficou mais fácil. O princípio básico tático do Polo Aquático se assemelha ao basquete e até mesmo ao futebol. A bola gira por fora da área e se aproveita uma falha para se infiltrar a bola para um pivô (centro-avante).
Pólo Ceará – Desejamos sucesso na sua empresa (http://www.caprius.com.br/) de eventos de “Outdoor Training” e especificamente agora com os empresários na vivência na caatinga, de 16 a 19 de março. Isso não significa que não continuemos aguardando a sua visita na piscina...
Amaral - Hélcio, gostaria de encerrar nossa entrevista desejando um forte abraço a vc e toda a turma. Saiba que o seu sonho não pode ficar sem ação. Como disse Amir Klink: “Há tempo para planejar e há tempo para partir”. Você já soltou as amarras do seu barco, siga em frente, pois estarei ao teu lado para segurar o remo e dar um sentido as coisas sonhadas com amor.
Um forte abraço do amigo e incentivador de sempre, Walter Amaral.
As duas fotos são das vivências promovidas pela Caprius, empresa de ecoturismo do coronel Amaral.
2 Comments:
Teve uma época q eu fazia dois treinamentos, a noite no Náutico com o Barroso e às 12:00, todos os dias na piscina do Cólégio Militar, com esses grande camarada. Os treinos eram sinistros (10 x 100m cabeça alta, com bola, a cada 2 minutos !!!). O resultado disso tudo, foi maravilhoso, em pouco tempo, já estava desafiando os atletas da natação do Náutico !!! hahahaha
Consegui baixar todos os meus tempos, inclusive quebrei a barreira de 1' nos 100m livre (59'35").
Grandes tempos !!!
Amaral, esperamos vc lá pelo Náutico, venha nos prestigiar.
Um grande abraço velho amigo !!!
Tenho imenso respeito a e saudades do "Capitão" Amaral (hoje Coronel)como grande jogador e o treinador q me colocou no mundo do pólo aquático (1987). Como grande goleiro de sua época, gostaria de saber o q ele disse na entrevista com a expressão: "Aí foi que aprendi a importância dos dedos cruzados ao receber uma bola chutada. ".
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