quinta-feira, fevereiro 09, 2006

"O Pólo aquático era considerado esporte de super-atletas"

Já repeti muitas vezes pro pessoal daqui e vou repetir de novo. O nível técnico dos veteranos de Fortaleza como Carlinhos, Abreu, Alexandre e Zé Claudio me surpreendeu no primeiro contato que tivemos, já que esses caras, quando treinavam, tiveram pouquíssimas chances de intercâmbio, não tinham em quem se espelhar. O coronel Amaral foi um dos responsáveis pela formação desses jogadores juntamente com o Barrosão, hoje residindo no interior do Ceará. E é o Amaral, que teve a rara experiência de treinar na Hungria, quem conta um pouco sobre a história do Pólo Aquático cearense.

Pólo Ceará - Entre os veteranos ex-jogadores de Fortaleza que estão voltando, a gente percebe um excelente nível técnico. Como foi o trabalho que você fez no PóloAquático em Fortaleza?
Amaral - Depois de ter sido convocado para a seleção brasileira (frutos extraídos dos JEB´s) fui para Academia Militar das Agulhas Negras - AMAN, em 1976. Ao chegar na AMAN procurei logo a me relacionar com o grupo do polo aquático, mas senti que faltava muito para desenvolver.

De goleiro passei a jogar de pivô. Ao término da Escola (79), ganhei um troféu por ter sido considerado o melhor jogador de polo aquático dos últimos 4 anos. Fiz a Escola de Educação Física (84) e retornei a Fortaleza (85)(CMF). Aqui passei a trabalhar a equipe do Colégio Militar, que logo logo começou a ter resultado. Recebi um convite para treinar a equipe do Náutico, no lugar do Barroso, que estava querendo sair. Aceitei o convite e passei a formar um time com os veteranos que treinavam com o Barroso e trabalhei uma equipe de jovens. Montei um grupo no Náutico com 45 atletas de pólo (entre homens e mulheres).
Fui jogador de polo de 1970 a 1979 e técnico de 1985 a 1989.

Pólo Ceará - Os dois nomes sempre citados como treinadores são o seu e o do Barrosão. Algumas pessoas citam ainda o Eugênio. Quem começou esse trabalho? Vocês chegaram a participar de competições?
Amaral - Quem iniciou o pólo no Ceará foi o Colégio Militar, com a chegada de oficiais que serviram no Sul. O Sargento Noronha foi o nosso primeiro técnico a conseguir um troféu nos JEB´s (73 e 74 – em que disputei).

Participamos de um torneio N/NE em Recife, trouxemos a equipe do Flamengo para jogar aqui. Realizei amistosos com as equipes do NE, além de outras disputas entres clubes, particularmente com a AABB.

Pólo Ceará - Por que o Pólo aquático acabou em Fortaleza e ficou mais de 10 anos esquecido?
Amaral - O JEB´s foi o grande impulso para o polo aquático, pois tínhamos um objetivo a alcançar. Com o fim do JEB´s e JUB´s o pólo ficou um pouco esquecido. Para iniciar todo e qualquer trabalho, acima de tudo, temos que colocar amor naquilo que fazemos. Quando comecei a trabalhar o pólo no Colégio Militar, ficava sem almoçar, só para treinar a garotada, pois sentia uma resposta do grupo. E assim foi se formando uma equipe.

Os técnicos de natação sempre culparam o polo aquático como o responsável pela fuga dos seus atletas. Eu desenvolvi uma boa natação nos meus atletas, ao ponto de disputar com a equipe da natação nas provas de velocidade. Outra decepção é ver as piscinas sendo construídas muito rasas, simplesmente por pura economia.



Pólo Ceará - Nos anos 60 o Pólo Aquático só perdia em audiência no Rio para o futebol e basquete. Os jogos tinham tanta gente que até os ingressos eram cobrados. Como era o clima nos campeonatos aqui em Fortaleza na sua época?

Amaral - O Pólo Aquático tomou grande impulso graças a uma grande pessoa chamada João Havelange, pois ele era um ex-jogador e muito fez por este esporte, inclusive dando passagens para a equipe do Brasil disputar uma olimpíada.

As competições eram bastante assistidas, pois o Polo era considerado um esporte dos superatletas. Antes não existia essa febre do ironman. Os jogos na AABB e no Náutico eram bastante concorridos.

Pólo Ceará - No nosso time atual do Náutico há o Dirceu e eu que treinamos nos anos 80 no Fluminense com o Jorge Herculano (Jorgete) e Claudino, já treinador consagrado no seu tempo. Você numa conversa por telefone contou que conheceu o Jorgete. Você poderia falar um pouco sobre esses nomes e sobre outros destaques da época?
Amaral - Meu contato com a turma do Rio e SP era muito pouca, excetos os que foram para a Europa. Conheci o Jorgete no Fluminense e nos JEB´s, ele sempre foi um ícone, incentivador do esporte. A turma respeitava muito o Jorgete no apito. Não “alisava”.
A viagem à Hungria foi com um grupo formado com os melhores dos JEB´s de 1974. Levaram também todos os técnicos dos estados que participaram dos Jogos. O Técnico do Ceará foi impedido de viajar por ser militar, pois o "estágio" foi na Hungria que era um país socialista controlado pela Rússia. Os destaques do time eram Beiçola, Paulo, Michel, Caco, entre outros...

Pólo Ceará - Ouvi dizer que quando chegou na Europa para jogar contra os húngaros você ficou impressionado com a força dos chutes. Como foi essa passagem?
Amaral - Quando cheguei na Hungria fui direto para a piscina. A equipe do Brasil estava com 3 goleiros. Eu (Ceará), Michel (Guanabara/Rio) e o Coutrim (SP). A primeira bola que fui defender furou o bloqueio das minhas mãos e bateu no meu rosto. Aí foi que aprendi a importância dos dedos cruzados ao receber uma bola chutada. A Hungria, quando estive lá treinando por um mês, era considerada a melhor equipe do mundo. Os americanos passaram bom tempo treinando também com eles. Inclusive levaram para EUA toda delegação principal de polo da Hungria para uma temporada.

Pólo Ceará - As regras acabaram de mudar para tornar o jogo ainda mais dinâmico. Como você compararia o jogo nos seus tempos para os últimos que você viu?
Amaral - Primeiramente, preciso me atualizar, mas com essas mudanças, as equipes passaram a trabalhar com mais velocidade e o gol ficou mais fácil. O princípio básico tático do Polo Aquático se assemelha ao basquete e até mesmo ao futebol. A bola gira por fora da área e se aproveita uma falha para se infiltrar a bola para um pivô (centro-avante).

Pólo Ceará – Desejamos sucesso na sua empresa (http://www.caprius.com.br/) de eventos de “Outdoor Training” e especificamente agora com os empresários na vivência na caatinga, de 16 a 19 de março. Isso não significa que não continuemos aguardando a sua visita na piscina...
Amaral - Hélcio, gostaria de encerrar nossa entrevista desejando um forte abraço a vc e toda a turma. Saiba que o seu sonho não pode ficar sem ação. Como disse Amir Klink: “Há tempo para planejar e há tempo para partir”. Você já soltou as amarras do seu barco, siga em frente, pois estarei ao teu lado para segurar o remo e dar um sentido as coisas sonhadas com amor.
Um forte abraço do amigo e incentivador de sempre, Walter Amaral.

As duas fotos são das vivências promovidas pela Caprius, empresa de ecoturismo do coronel Amaral.


2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Teve uma época q eu fazia dois treinamentos, a noite no Náutico com o Barroso e às 12:00, todos os dias na piscina do Cólégio Militar, com esses grande camarada. Os treinos eram sinistros (10 x 100m cabeça alta, com bola, a cada 2 minutos !!!). O resultado disso tudo, foi maravilhoso, em pouco tempo, já estava desafiando os atletas da natação do Náutico !!! hahahaha
Consegui baixar todos os meus tempos, inclusive quebrei a barreira de 1' nos 100m livre (59'35").
Grandes tempos !!!
Amaral, esperamos vc lá pelo Náutico, venha nos prestigiar.
Um grande abraço velho amigo !!!

11 fevereiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Tenho imenso respeito a e saudades do "Capitão" Amaral (hoje Coronel)como grande jogador e o treinador q me colocou no mundo do pólo aquático (1987). Como grande goleiro de sua época, gostaria de saber o q ele disse na entrevista com a expressão: "Aí foi que aprendi a importância dos dedos cruzados ao receber uma bola chutada. ".

11 fevereiro, 2006  

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