sexta-feira, abril 14, 2006

Clínica (aula prática à distância)

Ricardo Perrone, da Espanha, comentou essa jogada.

Em primeiro lugar protesto (brincando, é claro) por você ter me mandado logo o filme em que há um monte de erros. Dei uma olhada nos filmes para o Beto e Quito e vi um contra-ataque bem feito e um homem a menos bem razoável (tirando o erro no momento do gol, em que o defesa levanta o braço errado).

Tenho vários comentários a fazer. Se fosse ao vivo eu não mencionaria tantas coisas para não dar um nó na cabeça da rapaziada, mas, sendo por escrito, acho que dá para analisar cada lance devagar. Se tiver alguma dúvida, por favor me escreva.Vamos lá:

A- Posso ter me enganado e talvez tenha sido apenas uma coincidência, mas a impressão que o início do filme me passou é de que a maneira como vocês estão arbitrando o treino está obsoleta. Digo isso porque a bola foi passada ao centro e o juiz, ao invés de deixar a jogada prosseguir ou, se quisesse ser rigoroso, expulsar o defensor, marcou falta simples. Até o fim da década de 80, todo o jogo era distribuído pelo centro, que recebia uma falta comum e passava a bola para quem estava entrando na área ou para quem estava no arco de ataque. Mais ou menos a partir de 1990, a arbitragem internacional passou a praticamente não marcar mais faltas comuns no centro, sob a alegação de que, se o atacante estava a 2 ou 3m do gol e tentando arremessar, havia perigo de gol e a falta tinha de ser de expulsão (ou pênalti, se o centro conseguisse rodar pelo menos 90 graus). Isso mudou toda a concepção do jogo e gerou uma série de modificações na forma de arbitrar e dos times atacarem e marcarem:

1- Ao invés de marcarem o centro entre ele e o gol, como antigamente, os defesas passaram a lutar para tomar a frente ou, pelo menos um lado do centro, para se colocar entre ele e a bola. O centro, por sua vez passou a ficar o tempo todo tentando colocar o marcador nas suas costas.

2- Os juízes liberaram muito mais essa luta por posição (que às vezes parece até luta-livre) e passaram a dar expulsão sem a bola apenas quando o defesa passar por cima do atacante ou o puxar pelo pescoço. Isso fez com que a maioria dos centros, ao invés de lutar de costas para o defensor, passassem a ficar de frente para o beque, tentando segurá-lo com as duas mãos e só virando o corpo quando sentem que há uma boa chance de receber a bola. Uma das conseqüências disso é que jogadores leves como o Kiko que eventualmente jogavam marcando o centro não conseguem mais jogar nessa posição, pois quando vão marcar um grandão este o segura até o último instante e quando larga não dá mais tempo de nadar em volta para tomar a frente, como eles faziam quando os caras jogavam de costas.

3- Quando o defensor está nas costas do centro e a bola entra, as únicas chances do defensor não ser expulso são a de que ele tenha muita perna e envergadura e consiga afastar a bola sem passar por cima do atacante (o que é muito raro) ou que um ou mais dos outros defensores desçam rapidamente e tirem a bola do centro. Se vocês virem jogos de equipes mais leves como a seleção italiana ou a espanhola reparem como descem sempre dois ou mais jogadores praticamente junto com a pingada.

4- Como não há mais falta simples no centro (a não ser em casos raros em que o juiz não apita a expulsão por ter achado que o centro ia levar vantagem e depois dá uma falta comum para não prejudicá-lo) aquelas entradas de área para receber a bola praticamente acabaram, pois o risco de fazer uma falta de ataque é grande. Ainda se entra na área, mas a função principal é mexer com a defesa para tirar a marcação por zona e possibilitar a pingada.

5- O que a maioria das equipes estava utilizando para marcar, até esta última mudança de regra, era a marcação por pressão até o momento em que viam que o centro tinha conseguido estabilizar uma posição e havia uma chance da bola ser passada para ele. Nesse momento, um jogador descia para evitar a pingada e os outros se colocavam entre os demais atacantes fazendo uma defesa por zona. Se o beque voltasse a melhorar sua posição e a esconder o centro em relação à bola, o time voltava à marcação por pressão.

Muitos times ainda estão jogando assim, mas creio que a tendência agora será usar a marcação por zona em M direto (para ver o que é isso, dêem uma olhada nas minhas colunas do ano passado, no www.poloaquatico.com.br). O motivo é que com a redução do tempo de posse de bola e não sendo mais córner quando a defesa desvia o chute, a possibilidade de contra-ataque é muito maior com esse tipo de defesa.

B- Considerando o que escrevi acima, no início do ataque no filme o marcador do centro deveria estar brigando para se colocar entre o centro e a bola e marcando com o quadril mais alto, para poder dar um bote para interceptar o passe ao centro. Da mesma forma, na hora que a bola foi pingada, os defensores que estavam perto deveriam ter descido para tentar tirar a bola do centro.

C- Ainda neste início de ataque, o jogador da ponta boa (posição 5, ver colunas) está totalmente desmarcado. O defesa não está marcando pressão nem zona.

D- Depois da falta no centro, o jogador que estava na ponta ruim (posição 1, ver colunas) cruzou toda a área até chegar na outra ponta, fazendo uma falta de ataque não marcada no meio do caminho. Isso não é uma boa jogada, porque, além do já mencionado risco de fazer falta, ele não tem como receber a bola no meio de todo mundo e enquanto ele está passando (junto com seu marcador) fica impossível pingar para o centro, perdendo-se preciosos segundos de ataque.

E- Na hora do passe para fazer o gol, o defesa que deveria estar marcando o atacante que fez o gol está de costas para a bola e sem segurar o atacante. O marcador da ponta também deu bobeira porque de onde estava e de frente para a jogada poderia ter ido facilmente auxiliar seu companheiro e impedir o gol.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Valiosa contribuição!
É interessante notar como "as coisas mudaram" e, praticamente todas as equipes amadoras brasileiras aidna não aderiram à nova metodologia de jogo!
Erros que precisamos consertar para evoluir de forma correta!
Muito obrigado, Ricardo Perrone!

14 abril, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Justo o Alexandre levantando o braço errado!?!??!?
Put's.. e agora?!?!?!
aheoiaheoiheoi

14 abril, 2006  

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