domingo, outubro 22, 2006

"Quado era mais novo, o WP era tudo pra mim"

Na primeira etapa do Circuito em Fortaleza eu quase enlouqueci por causa de uma daquelas coincidências malditas em que num mesmo mês tudo começa a dar tilt na sua vida e sobram batatas quentes. Mesmo assim aproveitei muito o evento, observando e chegando à certeza que estávamos no caminho certo, que o Polo aquático é viável no Nordeste (ainda mais depois que o pessoal de Brasília virou nordestino).

A Paraíba é um exemplo. Um excelente time de masters como grandes figuras como Zé Marcio, Edmundo, Sá Filho, Vladimir, Alessandro, Octavio e outros, e, mais importante, uma real integração dessa galera mais experiente com a garotada mais nova, com idade de juvenil.

Entre os masters, me chamou a atenção a coesão do grupo e, individuamente, o jogo do Rodrigo, muito rápido e perigoso no ataque. Meu amigo Octavio na época contou que Rodrigo havia sido anos atrás uma grande revelação paraibana, que tinha recebido convites para jogar em São Paulo e ainda havia promovido o WP em Honduras. Razões portanto não faltavam para que conhecessemos melhor esse excelente atleta (na foto abaixo com sunga da CBDA ao lado de Zé Marcio e Sá Filho) da grande equipe paraibana.



Pólo Ceará - Na primeira etapa do Circuito Nordeste/Centro-Oeste em abril reparei que você se mexia muito e que muita gente nem se cansava na disputa de bola quando te via. Fale um pouco de sua carreira de nadador.

Rodrigo - Comecei desde os três anos na natação sempre no Esporte Clube CaboBraço. Participei de vários campeonatos representando o clube e o meu estado. Tive a oportunidade de conhecer lugares pelo Brasil graças aoesporte. Meus estilos eram borboleta e livre. É verdade que como nadador tiveuma carreira curta, mas bastante produtiva.

Pólo Ceará - A geração de Léo Vergara e Zé Marcio obrigou o Brasil a olhar pro Polo Aquático paraibano de uma forma diferenciada. O sucesso deles teve influência no seu ingresso no polo aquático? Como você começou?

Rodrigo – Olha, a bem da verdade não sabia de Léo nem tampouco de Zé Marcio. Quando comecei meus técnicos foram Ronaldo Marinho e Kinho, pois os treinos eram realizados na piscina ao lado. Aos 10 anos comecei no Pólo Aquático e me fascinou, tivemos a oportunidade de pegar os jogos escolares da nossa cidade e ainda o interclubes, e foi aí que nosso nível técnico melhorou bastante. Os fundamentos que aprendi me credenciam ate hoje graças ao trabalho dos meus hoje amigos Ronaldo(in memorian) e Kinho.

Depois veio Abílio com seu entusiasmo, um excelente técnico. Foi quando dei um salto no meu estilo de nadador. Treinávamos três vezes ao dia,e o resultado era o esperado. Fui 7 vezes consecutivas melhor jogador,artilheiro e tínhamos também o mesmo titulo paranosso goleiro Vladimir. Isso em norte-nordeste centro-oeste74/75/76 e naminha idade (nasci em 1977) quando nossos resultados apareceram, a turma adulta voltou. Ainda ao 15 anos fiz parte da seleção adulta com Edmundo, Rivaldo, Zé Marcio, Ronaldo, Kinho, Leucio, Zé Maria, Bonifacio, AndreBaiano, Marco, Franco,como técnico o Mac e em outra oportunidade o Kleber. Logo depois fomos ao rio com a equipe 77/78 participar de um campeonatobrasileiro.

Pólo Ceará - Você se destacou desde cedo no Polo Aquático? Pensou em ir pro Rio ou São Paulo desenvolver ainda mais seu potencial?

Rodrigo – Graças à natação não tive problemas e por isso me destaquei logo no citado campeonato brasileiro. Mesmo nossa equipe sendo mais nova nos destacamos como conjunto e individualmente tivemos destaques e conseqüentemente convites pra jogar em São Paulo no Pinheiros. Mas sabemos que sobreviver de polo aquático não seria fácil, como na realidade não é. Meu pai não autorizou.

Pólo Ceará - Você foi pra Honduras difundir o polo aquático. Como surgiu essa oportunidade?
Rodrigo - Aos 18 anos(1995) fui pai. Meu pai me deu a oportunidade de estudarem Honduras,fui com minha esposa e meu filho Matheus com seis meses. Aochegar o destino colocou um vizinho que praticava pólo aquático, então logo me prontifiquei a ir com ele pra lá. Foi então que me convidaram pra sertécnico e ajudar na preparação para o centro americano de esportes a serrealizado na ocasião em Honduras. Viajamos toda centro América (ElSalvador, Guatemala, Nicarágua) fazendo amistosos e por fim logramos o segundo lugar na competição(1997). Foi uma experiência incrível. Em 98 no meio do ano vim embora antes do furacão Mitch que destruiu o país mais umavez.

Pólo Ceará - E aí, como foi a convivência lá? O pessoal gostou? Você sabe se eles ainda jogam?
Rodrigo - A América Central ama o Brasil e os brasileiros,fui muito bem recebido, deixei grandes amigos,inclusive um já veio aqui. Só que depois da tragédia do furacão não consegui mais os mesmos contatos. Uma pena, mas um dia pretendo ir lá novamente e revê-los.

Pólo Ceará - Você acredita que nosso Circuito com o tempo vá aumentando a competitividade e conseqüentemente a quantidade de treino e o nível dos atletas nordestinos?

Rodrigo - Difícil falar pq nós atletas do Brasil paramos antes de completar 18 anos. São raras as exceções, então fica bastante difícil haver continuidade e evolução no esporte como um todo. Imagine vc no polo aquático que é poucovisto e difundido, são de pessoas como vc que precisamos. Eu nunca tinha participado de polo aquático ai em Fortaleza e nem em Natal. Hoje parece queestamos evoluindo, precisamos dessa interação,entre as crianças, jovens eadultos para que nunca falte quadros neste esporte que é sem duvidaespetacular. A competitividade sim tem que aumentar contanto que todos acompanhem a evolução uns dos outros. Me parece que agora esta difícil pra Pernambuco manter sua base. Isso complica muito aqui pra nós que esperamos tanto deles,que na verdade se não fosse por eles não estaríamos ainda hj praticando o polo.

O nível sem dúvida tem tendência a melhorar. Acredito que não podemos nos espelhar no jogo internacional mas sim aqui na velocidade, criatividade e pq não dizer investir nos fundamentos básicos do esporte, que sem duvida chegaremos a mostrar as nossas particularidades para o sul do país.

Pólo Ceará - O Alessandro me contou que vocês devem ir completos para Recife. O que eu acho legal é que percebo que há uma amizade muito forte entre vocês. Como está a preparação do grupo?

Rodrigo - Vamos estar sim. Só que eu, cara, estava ausente por conta das eleições,. Estou retornando aos treinos nesta segunda dia (09/10/2006), mas acredito que chegaremos bem preparados. Não sei se vc soube, ganhamos dos garotos da AMAN.

Pólo Ceará - Fiquei muito feliz em saber que os meninos da Paraíba endureceram contra SP, assim como também fizeram os garotos amazonenses. Achei também muito legal vocês não terem ido a Salvador para acompanha-los aí. No Circuito a gente vê nos times um vácuo entre o pessoal de mais de 30 pulando pra garotada de 16. Você acredita que a nova geração vai segurar a barra que os antigos seguraram ou a tendência do WP nordestino é minguar como aconteceu com essa geração perdida?

Rodrigo - É ISSO aí. Não sei talvez devido a esse mundo louco,de tantas exigências, de milhares de informações,seja mais difícil amar ao esporte como nós que não tivemos esses distúrbios de geração. O esporte pra mim naquela época era tudo. Conheci lugares incríveis, conquistas espetaculares, esforço sobre humano pra defender nosso clube ou estado,e hj o que a gente vê é a falta de animo e auto estima de nossos garotos.

Pólo Ceará - Sabemos que nosso jogo é duro, mas estamos cada vez mais preocupados com a disciplina durante as partidas, e iremos punir inclusive com a exclusão da etapa quem agredir a quem quer que seja. O que você acha dessa medida?

Rodrigo- Tem sim que ser rigoroso na marcação, principalmente com os mais jovens que eles tem que aprender que o esporte é de contato e não de sopapos. É bom avaliar as condições do ocorrido antes da punição chamar os atletas envolvidos e quem sabe dar um oportunidade, às vezes vale mais do que excluir.

Pólo Ceará - Muito Obrigado. Fica o espaço aberto para caso vc queira dar algum recado.

Rodrigo – Olha, foi muito bom responder,e ver que tem pessoas interessadas na nossa vida. Já dei muita entrevista quando atleta,mas agora que sou master é a primeira vez. Muito gratificante, e fica um recado pra garotada que pratica pólo aquático. Não deixem a oportunidade de defender um grupo, clube ou estado equem sabe ate a nação por coisa mundanas. A vida é uma benção. Tudo tem seu momento.Um grande abraço

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pô! Mais uma entrevista show de bola. Parabens aos entrevistado e entrevistador. Acho experiencias como essas do Rodrigo são fundamentais pra molecada aprender o que é praticar um esporte.

Abs

24 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Joguei contra o Rodrigo em alguns campeonatos N/NE pela CBDA e o cara realmente destoava do nível de todos os demais atletas da competição. Tanto que, como mencionou, foi o melhor atleta por repetidas vezes.

Que as palavras e o exemplo sirvam de estímulo para novas gerações de WP.

Abraços,

Fred.

25 outubro, 2006  

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