sexta-feira, janeiro 20, 2006

“Se me perguntassem o que eu gostaria de ser em outra vida, eu diria sem pensar: GOLEIRO DE PÓLO AQUÁTICO”



1983? Mais ou menos por aí...

Eu estava à noite em frente ao Fluminense esperando o ônibus que levaria a seleção carioca de 70 para jogar contra a seleção paulista. Meu pai perguntava: ”o que você tem que não fala nada?”. Ele nem desconfiava. Eu estava me borrando de medo das terríveis histórias dos trotes dos veteranos.

Íamos viajar junto com a então promissora seleção de 67, puxada por destaques como Pará, George Chaia e Luiz Guilherme Sanchez. Depois de alguns momentos de tensão na viagem, chegamos ao Ibirapuera. O Pará era sempre o mais animado e, talvez por isso, ameaçador. Por algum vacilo eu e Wilson Fialdini chegamos atrasados e sobramos no quarto da molecada. Pensei que fossemos ser jogados aos leões.

Que nada. Salvos pelo gongo. Fomos para um quarto ao lado, onde estava a comissão técnica. Assim que entramos no quarto, ouvimos o Pará e uma horda daqueles caras mais velhos que queriam bancar “os maus” correndo e gritando pra invadir o recanto dos pivetes e tocar o terror. Escapamos calados. No dia seguinte o Pará foi um dos que mais deu força quando caímos na água para jogar. Tive certeza que de mau aquele cara não tinha nada.

Desde então estive com o Pará inúmeras vezes, em diversas situações e lugares diferentes. O cara está sempre no mesmo astral elevadíssimo, com disposição pra qualquer parada, um sujeito sem dúvida diferenciado e com uma certeza inabalável compartilhada por muitos: nada é mais importante nesse esporte do que os amigos.

Mesmo assim, Pará, pode ter certeza que um cara como você, já aclamado um dos cinco melhores do mundo e na seleção há mais de 20 anos, merece da mídia e dos que gerenciam o esporte brasileiro muito mais respeito. Seria maravilhoso acreditar que você não precisará nunca mais fazer como em 2005, quando teve que largar o Pólo Aquático para correr atrás de dinheiro. A gente vai fazendo igual a você: vamos acreditar.

Pólo Ceará - Li no http://www.poloaquatico.com.br/ que você está de volta à seleção brasileira. Você já está há quanto tempo na seleção?
Pará - Comecei a treinar na seleção em 1983

Pólo Ceará - Você começou a se destacar muito novo e até hoje é considerado o melhor goleiro do Brasil. A que se deve tanto sucesso e por tanto tempo?
Pará - Ter muita determinação e acreditar sempre que no que faz e nunca deixar de acreditar nos seus sonhos. Um dia eles podem se realizar.

Pólo Ceará - Você já rodou muitos países jogando. Quais foram os melhores jogadores (inclusive goleiros) que você viu atuar?
Pará - Na linha eu destaco o número 11 da Sérvia e Montenegro(Vujazinoch) e no gol o Jesus(Espanha), o melhor que já vi agarrando.

Pólo Ceará - Como é que você qualifica o momento atual do Pólo Aquático brasileiro?
Pará - Caótico. Estamos na véspera do Pan e não começamos os treinamentos. Perdemos os irmãos Perrone (insubstituíveis) e poderemos ter mais uma baixa que é o Vicente Henriques (Paineiras), que atua no Savona (Itália), para a seleção italiana.

Pólo Ceará - Você teve que parar esse ano para ganhar dinheiro e agora voltou ao Pinheiros. Nunca pensou em ir jogar no exterior pra viver de Pólo Aquático?
Pará - Já,mais deixa prá lá. O meu tempo já passou.

Pólo Ceará – Você já está há algum tempo jogando pelo Pinheiros. Em São Paulo as condições são melhores do que no Rio?
Pará - Não existe comparação. No Pinheiros, clube onde eu treino,tem uma estrutura excepcional e o principal é que eles cumprem o que prometem. Isso é fundamental.

Pólo Ceará - Nunca teve um momento que você tenha cansado de tanto esforço sem o devido reconhecimento? Qual a sua rotina de treinos e qual seria a ideal?
Pará - Nunca liguei pra isso,nunca esperei nada em troca. O que consegui nesses anos todos jogando pólo aquático,foram os meus amigos. E isto não tem preço. Na vida se você não tem amigos, você não tem nada. Se me perguntassem o que eu gostaria ser em uma outra vida, eu diria sem pensar,GOLEIRO DE POLO AQUÁTICO. Treino forte no Pinheiros,faço levantamento olímpico com o mestre Dimas no Pinheiros. Poderíamos ter um calendário com um maior número de jogos. Já seria um bom começo.

Pólo Ceará - O Kiko Perrone já disse antes e repetiu numa entrevista aqui que ele, Beto Seabra e Michel se tornaram excelentes chutadores graças à sua paciência, de, já consagrado goleiro da seleção há muitos anos, ficar depois dos treinos para pegar os chutes deles quando eles eram moleques. Os três se tornaram grandes nomes do esporte. Você sempre foi um cara aberto para ajudar os mais novos, ver essa galera (e outros) bem-sucedida deve ser uma das suas maiores recompensas no Pólo Aquático...
Pará - Sem dúvida, ver esses garotos jogarem em nível de excelência me deixa muito contente. Ter podido colaborar, por menor que tenha sido a minha contribuição, já valeram todos esses anos de treinamento e dedicação ao esporte. Tê-los como amigos não tem preço.

Pólo Ceará - Fala-se muito da deficiência dos chutes dos brasileiros em relação aos europeus. Essa diferença continua muito grande? O chute dos brasileiros está melhor?
Pará - Continua. Não podemos nos basear pelo fato do Brasil possuir 2 ou 3 jogadores que chutem em nível internacional. É muito pouco. Nos grandes times, a maioria dos jogares chutam muito.É difícil dizer “larga esse”, “larga aquele”. Comparando o Kiko e o Felipinho, nesse tempo em que os dois estão jogando na Espanha, o chute deles melhorou absurdamente. O trabalho de chute a gol desses jogadores é muito grande. Primeiro eles têm o tempo a seu favor e segundo jogam em um nível em que o jogador tem que chutar muito bem. Fazendo uma comparação (um exemplo matemático), enquanto no Brasil os jogadores dão 100 chutes por semana, lá fora eles dão 350 chutes e jogam com os melhores do mundo.

Pólo Ceará - Qual a expectativa para o Pan 2007? Como você avalia o Brasil em relação a outras seleções?
Pará - Já estamos bem atrasados, temos um ano e meio para o Pan, o que é muito pouco tempo. Já estamos acostumados a trabalhar em condições adversas. Ganhar dos EUA no Pan é uma tarefa, digamos, quase impossível. O nosso objetivo é ganhar de Cuba e Canadá e fazer a final contra os americanos. Hoje, na minha opinião,não ganhamos do Canadá e faríamos um jogo duríssimo contra Cuba.

Pólo Ceará - Está quase certo um torneio em Fortaleza na praia na semana santa (dependemos apenas de alguns acertos de patrocínio pra confirmar). O campeonato estará aberto a qualquer time, embora a idéia principal seja a criação de um Circuito Nordestino de Pólo Aquático, com outros eventos em outras capitais nordestinas durante o ano. Como você vê esse tipo de iniciativa?
Pará - Esse tipo de iniciativa é fantástica. Deveriam existir torneios como este em outros lugares para a divulgação do nosso esporte. Se puder,estarei presente com o Master. Grande abraço e obrigado.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Parabens mais uma vez, pela GRANDE entrevista, valeu Pará e Hélcio.

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns pela entrevista e pelo projeto Hélcio.
Já que quem deveria render alguma homenagem ou respeito ao Pará e outros atletas não faz, pelo menos ex atletas como vc que acompanham o esporte e sabem das dificuldades dos caras estão criando mais um canal de divulgação e promoção do pólo aquático.

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

O primeiro treino, o primeiro jogo, o primeiro campeonato, ficará sempre na memória.
Valeu pela entrevista e espero estar em Fortaleza com o time de Master, mas agora com o Pará no time.
Arranja outra foto que o goleiro tá parecendo uma lacraia.

abraços

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Gostaria muito de ouvir opiniões e sugestões destes grandes jogadores brasileiros sobre como iniciar e desenvolver o pólo aquático em cidades como Fortaleza, onde no momento só contamos com uma equipe.
Como fazer para incentivar escolhinhas femininas e masculinas? Deveríamos nos aliar às escolas de natação? Será que eles não nos veriam como potenciais concorrentes? Como trazer a juventude, principalmente os amantes do esportes aquáticos (e que são muitos no Ceará), para o pólo?
Sei que o espaço dos "comentários" não é o fórum mais apropriado para esta discussão, mas vou aproveitar este blog de sucesso, visto por muitos, para lançar a discussão.
Sem a massificação dos esporte, não vejo como poderíamos alcançar um nível de excelência.

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Dirceu, aqui em João Pessoa quando se quer ir atráz de material humano vai-se nas escolas e faz-se o convite pra pelo menos vir fazer um teste, a gurizada pelo menos se interessa, pois se trata de uma bola de cor diferente e 1 piscina, que como se diz neste BLOG é diversão na certa.
Pelo menos de uma dica EU sei (rsrs).
Abraços e fiquem c/Deus.

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

achei bem interessante a entrevista. Deve ser muuito comédia ser calouro de viagem de polo aquático.. mas pra meninas isso aeh nem rola.. eh ruím pros meninos mesmo hein..

hihihih
enfim, to mo feliz por poder comentar aqui ai ai...
beijos gente e até amanhã! .;)

ps: preciso e muito melhorar o meu jogo.. minha condiçao fisica.. =/

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Mais uma vez, nosso jornalísta e atleta de Pólo (agora do Náutico/Fortaleza), mostrou pra que veio !!! Grande incentivador do Pólo em Fortaleza, nos agracia com essa belíssima entrevista, desde ícone do Pólo Aquático brasileiro !!! Wilson,Pará,e equipe, será um grande prazer recebê-los aqui em nossa terrinha !
Temos muito ainda o que aprender, e seria muito proveitoso a vinda de vcs !!!
Um grande Abraço a todos !!!

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Nota: onde se lê desde, leia-se "deste"

20 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Tive a oportunidade de treinar com o Pará, na época era infantil, a seleçao deu umas treinadas no TTC, o Kiko tb treinou nesse tempo ele era do CRG(Clube de Regatas Guanabara), o Crivela que era meu treinador colocava a gente para levar porrada dos caras, Michel, Adriano...Show de bola a entrevista, quem conhece o Pará, sabe que o cara é a humildade em pessoa, quem pode dizer isso é o Jaime "Paraíba" e Ludim que eram os goleiros do Tijuca na época.
PS. Cara cade o Estelinho, Rau,EDMOTA(Guanabara)

28 janeiro, 2006  

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