O texto abaixo foi publicado originalmente no
poloaquatico.com.br e lá ainda está disponível nas colunas de Ricardo Perrone. Como a quantidade de informação na internet é muito grande, às vezes é preciso trazê-las à tona de novo, e por isso republicarei alguns do artigos do Perrone.
Leia, aprenda e repasse o que você aprendeu.
Em 1995, em Dunquerque, França, no Campeonato Mundial de Juniors, me chamou a atenção o aquecimento do centro espanhol, que, colocado na marca de 2m, realizou seguramente pelo menos uns 30 chutes de esquerda, de gancho e de revés, com uma habilidade e precisão impressionantes. E o mais surpreendente, foi constatar durante o jogo que o garoto não era canhoto. Outro dia, pela televisão, vi também o Bencivenga, centro da seleção italiana receber uma bola a meia altura com a esquerda e mandar um tiro de revés que acho que nem de frente e com a direita eu seria capaz de igualar.
Realço esses fatos não como exaltação às qualidades desses jogadores, mas como questionamento do porquê de raríssimos de nossos centros, em qualquer categoria, serem capazes de usar eficientemente os dois braços.
Embora eu não seja exatamente qualificado para isso, tanto por nunca ter sido técnico, quanto por não ter jogado nesta posição, me parece que salta aos olhos de qualquer um que acompanhe os treinamentos das principais equipes, que o treinamento dos jogadores de centro tem sido relegado a um plano inferior às demais posições e que esses jogadores praticamente só treinam especificamente para a posição durante os treinos coletivos. Para comprovar isso, o melhor exemplo é o treino de chute a gol. Basta perguntar a qualquer centro quantos chutes por semana ele treina em sua posição (isto é, chutes de costas para o gol, como é a situação real durante a maior parte do jogo) e quantos ele treina chutando do perímetro e de frente para o gol, para ver a desproporção. Outro ponto crítico, é o pouco treinamento para a disputa de posição no centro, que também seria um treino específico para quem joga de centro ou marcador de centro, e que raríssimas vezes vi ser realizado em qualquer clube.
A esta altura do texto, estou certo de que vários amigos treinadores já estão pensando: “Tá bom, falar de fora é fácil, quero ver é dar treino para vinte ou trinta atletas simultaneamente, com pouco espaço físico e pouco tempo disponível, e ainda conseguir individualizar treinos para cada posição.” Realmente, não estou dizendo que seja fácil, mas para evoluirmos, acho que cada vez mais vai ser preciso fazer a cabeça dos atletas para a necessidade de que façam seus treinamentos sem supervisão direta, ou seja, sem precisar que o técnico fique de babá para ver se alguém está matando o treino.
Outro ponto fundamental é acabar com o mito do super talento, que não treina nada e chega na hora e produz um resultado fantástico. O próprio Oscar, do basquete, outro dia estava falando que fica indignado quando o chamam de “mão-santa”, como se sua precisão nos arremessos fosse fruto de algum milagre, e não de um trabalho de décadas, em que ele sempre ficou depois do treino ou em outras horas fazendo de 500 a 1.000 arremessos, o que faz ainda hoje.
No pólo aquático é a mesma coisa, e todos os grandes chutadores que conheci, desde o falecido Szabo, passando pelo Pinduca, Solon, Eric, até os jogadores de hoje como o Michel ou o Beto Seabra, sempre se caracterizaram por ficar depois do treino treinando chutes, enquanto os outros (eu, inclusive) iam embora para fazer outras coisas.
Por isso, hoje em dia, acho que é absolutamente indispensável a qualquer jogador de centro que deseje atingir um desempenho de nível internacional, realizar diariamente, além de um treinamento específico de perna muito forte, incluindo exercícios de disputa de posição, pelo menos uns 45 minutos de chutes de gancho e de revés, de esquerda e direita, com e sem um marcador agarrado nas costas, mesmo que para isso precise ficar mais um pouco depois do treino ou tenha de ir ao clube em outro horário.
Uma última observação é que, nas categorias de baixo, somente aqueles jogadores de maior porte físico recebem algum treinamento específico como centro ou marcador de centro (mesmo que limitado, como mencionei acima). Hoje em dia, com os aperfeiçoamentos táticos, pode ser de grande vantagem, como elemento surpresa, um time ter diversos jogadores que, mesmo não sendo especialistas, saibam jogar de costas para o gol e possam assumir essa função com um marcador que não seja o marcador principal do time adversário.
2 Comments:
Helcio,
eu já tinha lido. Li novamente e quantas vc repetir eu vou ler. Como pai de pequenos atletas uma das minhas referencias para orientar e dar uma luz, sempre foram as colunas do Perrone. Obrigado por republicar algumas delas. Os jovens precisam sempre estar escutando essas coisas. É como no treino repetição para tentar melhorar sempre.
abs
Sergio
... SÓ FALTOU DIZER QUE A CULPA É DA FEDERAÇÃO E DA CBDA, SE A FEDERAÇÃO NÃO ENSINA QUEM VAI ENSINAR. JÁ SEI QUEM TEM QUE TREINAR A GAROTADA E A CBDA. NOSSOS TECNICOS ESTÃO MUITO ATAREFADOS DANDO TREINO SENTADOS DE HORA E MEIA, ELES TEM TEMPO PARA RECLAMAR E DAR DESCULPAS. E MAIS FACIL CULPAR O ARBITRO, A ESTRUTURA, O PAPAGAIO...E TEM GENTE QUE ENTRA NA PILHA!!!!!
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