quinta-feira, janeiro 26, 2006

"O Pólo está no sangue"

Nesses poucos meses juntos já tivemos (e estamos tendo) todos os tipos de carência, desde questões estruturais à inexistência de uma cultura de prática de Pólo Aquático no Ceará. Isso faz com que qualquer um que um dia tenha brincado na água pense que é mole ser um Kiko Perrone. O que já chegou de gente posando de "bambambam" que saiu esbaforido da nossa brincadeira (não dá pra dizer que a gente treine) e nunca mais voltou, não está no gibi.

Admito que quando me disseram que vinha um "jogador e técnico" de São Paulo, pensei: "lá vem outro Szabo...". A diferença se fez na chegada. O Eduardo apareceu com sua namorada Aline na maior humildade. Só passou da grade da piscina quando foi convidado e o máximo que dizia era: "quero ajudar no que for possível". Senti na hora a experiência de quem sabe chegar, a malandragem que só adquire quem tem caminho percorrido.

Hoje o Eduardo é peça central em tudo que fazemos e, se como disse o recém-chegado Lima, o Pólo Aquático é um grande pretexto para juntarmos os amigos, o Edu é acima de tudo um grande amigo.

Pólo Ceará - Você já teve experiência como treinador no Jundiaiense e, dessa experiência saíram grandes valores como o Rudá, destaque da seleção brasileira junior no mundial de 2005 e parte do elenco que se prepara para o sul-americano de 2006. Como você se sente vendo o destaque desses jogadores hoje em dia?

Edu - Essa oportunidade surgiu quando o Ernesto (técnico de Jundiaí-SP) estava precisando de uma ajuda. Ele dava aula de natação de manhã e de tarde, e a noite era o POLO, com 3 times (adulto, junior, escolinha). Como ele sabia o quanto eu gostava de POLO (era o 1° a chegar e o último a sair), ele me deu essa chance. Foi muito legal, fiquei como treinador da escolinha por uns 2 anos, fiz muitos amigos e alguns são técnicos e outros jogadores, como o Rudá, que hoje é destaque na seleção. Quando eu ainda dava treino, o Rudá era um molequinho magrelo que ia ver o irmão (Raoni) treinar. Já daquele tamanho caía na água pra brincar com os mais velhos, era daqueles 1° a chegar, último a sair, ele tem ótima visão de jogo e chuta bem, ainda vamos ouvir muito mais sobre ele e de outros destaques (goleiro, marcador de centro) que estão estourando por aí . Acho que tudo que é feito com dedicação e vontade só pode resultar em coisas boas e satisfatórias.

1. Pólo Ceará - O seu começo no Pólo Aquático não foi muito fácil. Como eram as condições de treino em Jundiaí?

Edu - Comecei a treinar com 12 anos e o POLO em Jundiaí estava nos 1° passos ainda, era difícil, no time (Clube Jundiaiense) treinava todo mundo junto, só havia a equipe adulta com dois treinadores, o Ernesto (que depois virou técnico) e o Roberto Savietto (Batata, que depois parou). A piscina (25mt) era mal iluminada, mas a vontade de jogar, viajar, fazer novos amigos e ganhar dos mais velhos era muito maior do que qualquer obstáculo que pudesse aparecer. A gente ia jogar de kombi (15 caras), que era de um dos jogadores, dono de uma fábrica de chocolate. Dá pra imaginar a “putaria”! Não tínhamos o apoio do clube (mais ou menos a situação do pólo hoje no Ceará), muitas vezes fomos por nossa conta de ônibus para outras cidades, só pela vontade de jogar, depois as coisas foram melhorando (mas nunca passou nem perto de ser a ideal), foram aparecendo os resultados e o POLO cresceu em Jundiaí. Depois desses primeiros resultados, passamos a ter mais apoio do clube e hoje posso dizer que o POLO de Jundiaí está entre os melhores do Brasil (tanto na parte técnica, quanto na dos atletas).

Pólo Ceará - Você sempre fala do seu treinador Ernesto com muito respeito. Qual a importância dele para o Pólo Aquático de Jundiaí?

Edu - A verdade é que o POLO em Jundiaí só existe por causa do Ernesto, foi do esforço dele e de alguns outros apoios que o POLO de Jundiaí é o que é hoje. Ele é gabaritado para isso, com formação em Educação Física e Psicologia, fez vários cursos de POLO e já foi técnico da seleção Junior. O cara é muito gente boa e acima de tudo é amigo. Ele assumiu o lugar de técnico 2 anos após eu começar e é até hoje. Naquela época ele levava o time para cima e para baixo (viajávamos muito para jogar), então viramos uma família. O Ernesto foi como um pai para a gente (time 73), aquele pai gente boa, que ia para as farras com "os filhos" e tudo mais, só que depois do jogo, é claro!

Pólo Ceará - Muito novo você começou a jogar contra os mais velhos. Você considera essa "queima de etapas” positiva para a formação do jogador?

Edu - Não considero uma queima de etapas, pois jogar com os mais velhos é a melhor maneira de aprender, você sente na pele como a coisa é (joga contra o espelho), qualquer técnico sabe disso e só colocará o atleta com condições técnicas e físicas para tal. Com certeza é um fator positivo para a formação do atleta, pois estimula um esforço ainda maior, essa é uma das diferenças do bom jogador e do craque. Na minha época aconteceu muito isso, mas era pela falta de jogadores, então, começou uma rixa (boa) entre o adulto e o 73, ficamos tentando vencê-los por mais de 2 anos até o dia inevitável em que a criatura supera o criador, daí em diante nunca mais perdemos, apareceram mais resultados (Campeão Paulista Junior – 1ª divisão) até nos tornarmos o time adulto.

Pólo Ceará - O Marlus disse aqui que há muitas panelinhas nas convocações de seleção.Você acha que os atletas fora das capitais Rio e São Paulo, ou mesmo os que não são do time do treinador, tendem a serem preteridos?

Edu - Com certeza existe (em todos os esportes). Na minha época foi parecido, a diferença é que eu era do interior de SP, existia uma rixa grande entre interior e capital (técnicos, times e clubes). Na seleção foi a mesma coisa, o técnico era do Rio, ele nem sabia que existia clubes no interior de SP, ficou sabendo só no Campeonato Brasileiro daquele ano.

Pólo Ceará - Teve um treinador italiano que não deu muito certo com a sua equipe. Como foi?

Edu - kskksssskkss!!! Foi a maior palhaçada que eu já vi. Em 1997 nosso time havia ganho o Brasileiro (2ªDivisão), o clube tinha um atleta que era conselheiro da Federação Paulista e apareceu com uma proposta de contratar um técnico italiano que chegaria ao Brasil, e mais um monte de histórias sobre o POLO e o tal técnico. O clube conseguiu patrocínio para o POLO e no fim de algumas reuniões (sem todos os integrantes do time serem ouvidos) contrataram o cara. Ele ficou meio campeonato no clube e sumiu. Ele deu algumas dicas boas para alguns atletas, inclusive para mim que melhorei meu tempo na natação, mas no jogo ele mudou o time todo que havia ganho o campeonato e jogava junto há uns 3 anos. Depois de algumas derrotas para times que eram fregueses, veio a notícia, o cara sumiu e levou tudo que havia no apartamento que o clube e o patrocínio que haviam lhe dado. Era um farsante. Ficamos sabendo que ele foi para o Uruguai...

Pólo Ceará - Quando você chegou em Fortaleza tentou sozinho ir atrás de um treino de Pólo Aquático e nada conseguiu. Pode contar o que aconteceu e as suas primeiras impressões?

Edu - Foi no final de 2003, fui procurar POLO nos clubes, mas não tinha em nenhum, fui na federação, o presidente estava de férias e a secretária me disse que não havia interesse porque o orçamento daquele ano já estava fechado. Deixei meu telefone e não tive retorno. Acho que não há interesse da Federação, pois não é um esporte tão popular no Brasil.

Em 2004, eu liguei de novo e nada, nenhum interesse, desanimei... Até que um dia li no jornal que haveria um torneio na praia (Campeonato Brasileiro de Praia), em frente ao Ideal. Fui e rolou alguns joguinhos legais. Agora que o Hélcio está levantando o POLO aqui em Fortaleza, minha perspectiva do POLO no Ceará mudou completamente. Vamos evoluir muito com esse time ainda, nós estamos com piscina, jogadores, só falta o horário, mas logo a gente consegue mais espaço.

Pólo Ceará - Agora você está como responsável técnico pelas equipes masculina (junto com o Marlus, que está conseguindo ter horários pra acompanhar de fora da água) e feminina e, além de não receber, ainda é obrigado a pagar mensalidade. Isso sem contar que trabalhou o dia inteiro como engenheiro. Mesmo assim você não perde o bom humor e não nega treino. Como você avalia esse momento do Pólo Aquático em Fortaleza?

Edu - Todo começo é difícil, o POLO está recomeçando agora em Fortaleza (Náutico) e eu estou tentando ajudar do jeito que eu posso. Acho que nessa fase todo mundo tem que dar sua contribuição se quiser que o esporte se desenvolva. Joguei quase 20 anos em Jundiaí e isso está no sangue, só quem gosta de POLO sabe, além disso, como você pode perder o humor numa cidade como essa? Sol o ano inteiro, sem trânsito e treinando de frente para o mar! Fala sério! Quanto à mensalidade, acho que isso vai se resolver.

Pólo Ceará - Você acha que dá para montar bons times no masculino e feminino?

Edu - Com certeza, se aumentarmos o grupo de jogadores e o tempo de treino. Existem grandes atletas (talentos) e temos piscina o ano inteiro, é só a Federação começar a olhar com bons olhos para o esporte que já vai ser um grande passo para o POLO aqui no Ceará.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É isso aí Eduardo!!
O cara tem bem aquilo de "Pólo na VEIA"...
Eu concordo plenamente com ele qdo diz: "como você pode perder o humor numa cidade como essa? Sol o ano inteiro, sem trânsito e treinando de frente para o mar! Fala sério!"
Isso não existe em canto nenhum!!
Agora que a galera está no auge da empolgação, vamos aproveitar e fixar de vez o Polo aqui no Ceará!!
E esse campeonato é o primeiro e talvez o principal passo para isso!!
A ajuda de todos será imprescindível!!!

26 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Parabéns Hélcio e Eduardo pela entrevista.
Gostaria de deixar aos amigos do Náutico uma pequena reflexão:
Se pudéssemos treinar 3 vezes por semana no ritmo que treinamos ontem, evoluiríamos muito tanto individualmente quanto em termos coletivos.

26 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Estão de parabêns pela entrevista, gostei mesmo, bastante interessante. O Eduardo é super gente fina, paciente que é uma beleza com as meninas.. hihihih..
Eh isso aeh, o começo de tudo é sempre difícil; Estou no Náutico há alguns anos e pude conviver com altos e baixos, sei q vai ter uma saída! Eh só boa vontade de pessoas: clube e equipe e a coisa anda! ;)Falei! beijos

26 janeiro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

ps: vamos ver se a Aline volta ne?! Volta goleira!! =)

27 janeiro, 2006  
Blogger Joy to the World! said...

Parabéns Edu...Vc deveria ser o próximo presidente da FCDA, rs,é isso aí, temos tudo pra crescer. Valeu pela ajuda!
Bjs

27 janeiro, 2006  

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