Tribuna aberta
O Michel Vieira foi - e agora, voltando aos treinos, será de novo - um cracaço. Muita gente, na tentativa de desmerecê-lo, o qualifica como um louco, ou diz que ele fala demais. Talvez seja verdade, ou talvez seja a velha mania de rotular os dissidentes ao marasmo do pensamento comum. O que sei é que, se é louco (ou fala demais), é o tipo de louco que, quando está trabalhando, eu pergunto alguma dúvida de regra que tive, e o cara, mesmo ocupado, aparece em segundos com a versão em inglês da regra, avalia todos os cenários, se envolve. É o tipo de louco que faz diferença. É dele o primeiro artigo. As colocações são polêmicas? Então comente, diga o que você acha. Você concorda ou discorda?
E depois não esqueça: mande seu artigo, fale sobre a realidade do Polo Aquático onde você mora, elogie, critique, dê sugestões. Com vocês Michel Vieira:
Fala Hélcio,
O pólo aquático é um paciente em coma, respirando por aparelhos num hospital chamado CBDA. Os médicos responsáveis por esse doente são absurdamente incompetentes tanto no diagnóstico da doença como no tratamento dela. Além disso, são preguiçosos. A cura não é fácil, então para curar esse doente, é preciso trabalhar duro, pensar, desenvolver tratamentos mais eficientes e ao mesmo tempo mais baratos, pesquisar remédios mais em conta, etc. Mas a incompetência, falta de conhecimento do assunto e vontade de fazer o seu trabalho é uma doença ainda pior do que a do paciente. A essa receita de desastre some-se a arrogância desses doutores que vem cuidando desse paciente pelos últimos 15 anos ou mais e quando perguntados sobre o porquê desse paciente nunca ter apresentado o mínimo sinal de melhora, se defendem usando sempre a desculpa de que já fazem o melhor possível, dentro das condições que lhe são dadas.
Para esses doutores, quando o paciente perde de 10 gols de diferença de um país da Europa, não há nada demais. O paciente está estabilizado. Mas se esse mesmo paciente perder de 1 gol a partida final do Sul-americano de esportes aquáticos, as luzes vermelhas todas se acendem, os alarmes de emergência todos tocam e os médicos entram
Existe uma pílula chamada “Jogos Contra Equipes de Alto Nível” Os doutores vinham achando que gastar US$ 50.000 por 6 dessas pílulas (US$ 8.333,00/ pílula) era um bom tratamento para o paciente. O problema é que essa terapia vem sendo usada desde que o paciente nasceu e não apresentou resultado nenhum. O bom senso de não incorrer no mesmo erro mais de uma vez condena esse custoso tratamento. Eu acredito que existam maneiras mais em conta de se adquirir esse medicamento. Minha sugestão de tratamento: Convida-se uma equipe de alto nível para passar 2 semanas no Brasil treinando 2 vezes por dia. Pelas minhas contas, serão pelo menos 15 pílulas. Vamos às contas então:17 pessoas a uma diária de US$ 50 ao dia por pessoa custarão mais ou menos US$ 10.000 ao final de 12 dias. Uma média de US$ 667,00 por pílula. Os valores acima não foram inventados. Foi quanto custou trazer uma equipe Máster da Romênia para São Paulo 60 dias atrás. Detalhe: com a delegação romena hospedada em hotel! Então não falta dinheiro; o que falta é um mínimo de inteligência, criatividade, trabalho duro e principalmente, vontade de fazer as coisas melhorarem.
Agora vou me dar ao luxo de antecipar as críticas dos imbecis de plantão:
“O Michel coloca as coisas como se fossem muito fáceis porque ele não está lá na Confederação.”
Vou então copiar um trecho do começo do artigo lá em cima e colar aqui embaixo:
“A cura não é fácil, então para curar esse doente, é preciso trabalhar duro, pensar, desenvolver tratamentos mais eficientes e ao mesmo tempo mais baratos, pesquisar remédios mais em conta, etc.”
“Mas a Gol vende passagem por R$ 79,00 e a CBDA tem convênio com hotéis!”
Companheiros, primeiro; não se esqueçam de que a Confederação é uma entidade pública que lida com grande quantidade de dinheiro público. Se alguém conhece alguma instituição pública que não seria reprovada nos primeiros 15 minutos de uma auditoria idônea, por favor me apontem. Eu mesmo gostaria de conhecê-la. Segundo: eu mesmo viajei pela seleção antes do pré-mundial no Rio e garanto que não é esse o valor que a CBDA paga por uma ponte aérea. Fora outros absurdos que vêm acontecendo nas últimas viagens que não vou citar aqui, por não os ter presenciado. Só gostaria de deixar os dirigentes da confederação sabendo que os atletas notam quando existem pessoas sem função misturadas a uma delegação, principalmente se são numerosas. Notam também quando essas pessoas são parentas de dirigentes ou funcionários da Confederação. Notam também quando essas pessoas participam com muita freqüência de atividades fora do hotel no qual a delegação está hospedada; jantares, por exemplo. E que vêem facilmente que nesses eventos é sempre feito questão de se pegar todas as notinhas, as quais eu não acredito que vão ser apresentadas pra esposa em casa, quando regressarem ao Brasil. Não estou afirmando que isso aconteceu agora em Sidney ou em Montreal ou na última liga mundial. Afirmo e assino embaixo duas coisas: eu já presenciei esses incidentes em viagens nas quais tenha participado e que esses comentários não são isolados; todos os atletas comentam isso, sem exceção.
Obrigado mais uma vez pelo espaço companheiro, e boa sorte aí no Ceará.
Michel Vieira.
PS - Na foto tirada em recente evento na Paraíba organizado por Leo Vergara, que contou a presença de vários jogadores de São Paulo, Michel está com o árbitro Mac e com os irmãos gêmeos Marco e Franco, seus grandes amigos da época de Guanabara.